O rio de resiliência de Rozemar Dávi
Sabedoria, superação e união são os traços da história da empresária que recebeu o Troféu Nelson Galina
Vídeo com cortes da entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=JFTXOldB__I
Rozemar sentou e contou a sua história. Perdeu a mãe muito cedo, aos 14 anos, mal a vida sabia de todos os ganhos e perdas que ainda viriam. Comprometida com tantas coisas, ao mesmo tempo delicada e receptiva. Em uma sala aconchegante e um olhar que traduz um rio de resiliência, cercada pelas fotos de família. Notável, uma mesinha ao lado da Empresária do Ano de 2024, Rozemar Lucas Dávi, dois troféus um ao lado do outro, o dela e do marido, Daví Barela Dávi, agraciado em 2003.
“Naquele tempo, o câncer era uma sentença de morte. Ela descobriu a doença enquanto estava grávida e precisou escolher entre tratar a doença ou levar a gravidez adiante. Escolheu ter o bebê e trataria o câncer depois, mas o tratamento naquela época era muito limitado. Isso foi em 1969.” Com a morte da mãe, Roze se mudou com os irmãos para Chapecó, onde o pai trabalhava.
“Embora os mais velhos ajudassem, todos tínhamos que assumir responsabilidades. Eu amadureci rapidamente por necessidade. A mudança do Rio Grande do Sul para Chapecó foi desafiadora, porque tivemos que aprender a fazer tudo. Tivemos o apoio de uma tia que, mesmo morando longe, vinha nos ajudar e orientar, mas no dia a dia éramos nós. As dificuldades nos uniram. Morávamos no bairro Jardim Itália, onde faltava muita água. Para lavar roupa, íamos a um riacho distante. Era uma aventura. Levar tudo seco, passar o dia lavando enquanto as crianças brincavam, depois subir o morro com as roupas molhadas e as crianças cansadas. Isso nos ensinou muito sobre trabalho em equipe e resiliência.”
A empresária completará 70 anos em janeiro de 2025, mãe de dois filhos Pablo e Mauro, avó de quatro netos relembra que antes da mãe partir foi essencial a forma de ensinar. “Nossa mãe nos educava com muita clareza e retidão. Mesmo doente, ela nos orientava. Isso nos marcou profundamente e nos preparou para a vida. Ela sempre dizia que devemos tratar a vida com seriedade e alinhar as coisas enquanto temos tempo. Essa filosofia me guiou ao longo da vida.”
Aos 17 anos, Roze começou a trabalhar no Incra, mas como já namorava com Daví atendeu ao pedido de trabalhar na Nostra Casa. Assumiu diversas funções, desde tarefas básicas de office boy, como ir ao correio, até atividades relacionadas ao trabalho de ir ao Fórum, para o namorado que além de administrar a imobiliária, continuava advogando para algumas empresas. “Essa experiência foi muito enriquecedora para mim, porque conhecer e vivenciar todas as etapas da empresa me ensinou muito. Depois, ficou mais fácil ensinar e cobrar dos colaboradores, pois eu sabia como as coisas funcionavam.”
A empresa tem 44 anos, desses a Empresária do Ano relembrou dois momentos que foram desafiadores. Um deles lembrou até como uma certa aventura. “Nós tivemos um problema com o prédio que estávamos prestes a entregar. Uma família já morava no local e a fundação que estava sobre uma rocha e teve um deslize. Localizamos um engenheiro em São Paulo que faz os recalques em todos os prédios em Santos e passamos a noite ali, diligentes, vendo se aumentava as rachaduras. Foi quando o Daví teve uma ideia. Ele procurou e lembrou que tinha um amigo que tinha aquelas vigas em forma de "I", onde correm os trilhos do trem, aquilo é muito forte e são vigas grandes. Ele pensou que se colocássemos uma viga calcada em uma área maior, ela não afundaria. E foi o que aconteceu. Era de madrugada e fomos atrás desse amigo. Tiramos ele da cama. Tiramos o pessoal do guincho para buscar e trazer. Quando esse engenheiro de São Paulo chegou, ele disse que nunca tive essa ideia. Falamos que foi um advogado que teve essa visão.”
Talvez pela segunda ou terceira vez, durante a entrevista, Roze se emocionou de maneira profunda ao falar da perda do marido. Perceptível cada palavra de amor e respeito. “Sem dúvida, foi a perda do Daví. Apesar de estarmos muito organizados, o Davi tinha um papel muito importante na empresa. Ele era o relações públicas e, por ser advogado, ele tinha uma facilidade em todo o trânsito da parte de locação e venda. Então, foi o pior momento.”
“O que motivou a continuar?”
“A união. Nesse momento do prédio, nós tínhamos uma grande união dentro da empresa e conseguimos logo resolver o problema. E quando o Daví faleceu, a nossa união dentro da empresa, na família e entre os funcionários.”
14/01 • 14h35